Em escolas públicas quase metade dos alunos do ES não tiveram acesso a sabão em 2020
Com o início da pandemia da covid-19 no ano passado, produtos de higiene como o sabão tornaram-se essenciais para ajudar a prevenir o contágio pelo novo coronavírus. Entretanto, quase metade dos estudantes das escolas públicas do Espírito Santo não tiveram acesso a esse item básico ao longo de 2020.
É o que apontou o estudo “Síntese de Indicadores Sociais 2021 – Uma análise das Condições de vida da população brasileira”, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o levantamento, apenas 51,5% dos estudantes de 13 a 17 anos tiveram condições de utilizar sabão nas unidades de ensino municipais e estaduais.
“Isso é questão da desigualdade que existe no país, em termos de educação pública e privada. Nunca se deu falta de sabão porque não tinha uma pandemia, onde o sabão foi tão importante e um item mais que necessário”, destacou a socióloga Maria Ângela Rosa Soares.
Se os alunos não tinham nem mesmo sabão, quem dirá acesso à internet. A socióloga chama atenção para outro dado da pesquisa, que mostrou que 56% dos estudantes capixabas conseguiram realizar tarefas online por pelo menos cinco dias da semana.
Isso significa que 44% deles não conseguiram, seja por falta de acesso à internet ou por não ter alguém na família que pudesse auxiliar.
“A gente tem vários exemplos de alunos e crianças que moram em lugares mais precários, com a internet extremamente precária e com os pais tendo que sair de manhã e voltar à noite, não tendo condições ou conhecimentos para tirar as dúvidas que a criança eventualmente teve”, frisou Maria Ângela.
Aumenta o número de capixabas em condições de extrema pobreza
A pesquisa do IBGE também avaliou a renda da população e mostrou que houve um aumento, no Espírito Santo, do número de pessoas na chamada linha de extrema pobreza — famílias que recebem menos de R$ 155 mensais por pessoa.
Segundo o levantamento, 3,6% dos capixabas estavam nessa situação em 2019. No ano seguinte, esse percentual subiu para 3,8%. Ao todo, são 154 mil pessoas nessa condição, impactadas, principalmente, pela crise gerada pela pandemia.
Uma dessas pessoas é Eliana Lima de Moura. Desempregada aos 57 anos, ela conta que a renda é zero depois que acabou o auxílio emergencial.
Segundo ela, tem sido difícil até fazer faxina como diarista. Além disso, as doações de alimentos acabaram. Eliana diz que o que quer mesmo é um emprego.
“Para ter condição de viver dignamente, só isso. Porque eu estou acostumada a trabalhar, até de doméstica se for preciso. Para mim o importante é trabalhar, não importa como”, afirmou.
Para o diretor de integração do Instituto Jones Santos Neves (IJSN), Pablo Lira, o número de pessoas em extrema pobreza poderia ser muito maior, não fossem os programas sociais de prefeituras, Estado e governo federal.
“A gente teria uma taxa de extrema pobreza superior a 8%. Então a gente conseguiu ter um aumento não tão forte como seria sem as políticas públicas implementadas na perspectiva social”, frisou.
Pablo Lira ressalta ainda que o percentual de pessoas em extrema pobreza no Espírito Santo está abaixo da média nacional, de 5,7%.
Entretanto, há um número positivo na pesquisa: diminuiu o número de pessoas na linha da pobreza, são aqueles que ganham até R$ 450 por mês.
“Em 2019, a taxa de pobreza no Espírito Santo estava em 20,2%. Em 2020, com as políticas públicas implementadas — CNH Social, Qualificar ES, entre outras — e também políticas de transferência condicionada de renda, a gente alcançou uma redução na taxa de pobreza, que fechou o ano em 18,7%”, destacou o diretor do IJSN.
Reprodução: Folha Vitória
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