Carros de aplicativos: Mais de 4 mil motoristas deixam função e passageiros chegam a esperar até uma hora

Carros de aplicativos: Mais de 4 mil motoristas deixam função e passageiros chegam a esperar até uma hora

O aumento recorrente no preço da gasolina, aliado à insegurança e falta de reajuste por parte das empresas, têm feito com que muitos motoristas de aplicativos desistam da profissão.

No Estado, segundo o Sindicato dos Trabalhadores que Atendem por Aplicativo, das 19 mil pessoas ligadas à Associação dos Motoristas, 25% já abandonaram a profissão. O número equivale a 4.750 condutores que deixaram de trabalhar.

Na Grande Vitória, o alto número de desistências por parte de motoristas vem refletindo negativamente na vida de quem precisa do serviço.

Gesse Gomes disse que motoristas optam por cancelar corridas quando veem que a viagem não cobre os custos (Foto: Leone Iglesias/ AT)
Gesse Gomes disse que motoristas optam por cancelar corridas quando veem que a viagem não cobre os custos (Foto: Leone Iglesias/ AT)

Isso porque já há relatos de passageiros que aguardam até 1 hora para conseguir embarcar na viagem, como é o caso da universitária Ana Carolina de França Rocha, de 19 anos.

“Queria fazer uma corrida para o mesmo bairro, numa sexta-feira à noite. Eu ia para um restaurante. Depois de quase 1 hora, consegui um motorista, porque não achava. Casos como o meu, conheço vários. Tem muita gente reclamando”, afirma a jovem.

Já a manicure Adriana Kelly, de 48 anos, disse que já ficou mais de 30 minutos aguardando para conseguir uma corrida e reclamou sobre os cancelamentos. “Como eu moro em uma avenida que fica próxima de um bairro perigoso, muitos motoristas cancelam a corrida. Nisso, fico aguardando 10, 20 minutos e até meia hora”, disse.

Os cancelamentos das corridas e o abandono dos motoristas aos aplicativos podem ser explicados, segundo Gesse Gomes de Souza Jr., presidente do Sindicato dos Trabalhadores que Atendem por Aplicativo, pela alta no preço da gasolina – atualmente acima dos R$ 6 o litro – e a baixa lucratividade.

“Quando o motorista analisa que a corrida não cobre os custos, ele opta pelo cancelamento. Estamos sem reajustes há mais de quatro anos. Por isso, muitos deles começaram a identificar o modelo mais viável para garantir seus ganhos”, explicou.

Wagner Kenupe Thomaz, de 37 anos, foi um dos motoristas que decidiu abandonar as corridas convencionais de aplicativo.

“Hoje trabalho para uma grande empresa de frete. Como a gasolina estava muito cara, eu não enxergava lucro. Fora a insegurança que tinha”, disse.

Atrasos em consultas e trabalho por causa de demora
O baixo número de motoristas de aplicativos nas ruas está impactando a vida de quem precisa do serviço. Muitas pessoas que dependem das corridas e optam por aguardar até encontrar um carro disponível – o que pode levar até 1 hora – estão chegando atrasadas no trabalho e em consultas médicas.

“Eu trabalho indo até a pessoa e uso as corridas de aplicativo pela comodidade. Só que sempre chego atrasada nas clientes porque não consigo achar um motorista disponível. Fora as vezes em que quase perdi consultas médicas”, relata a manicure Adriana Kelly, de 48 anos.

Em sua rede social, a médica dermatologista Hanna Cade também relatou a demora por uma corrida. Ela, que estava com o carro em uma oficina, precisou do serviço e ficou 40 minutos esperando para a corrida.

“Fiquei com trauma”
Há exatos seis meses, Eder Demo, que hoje trabalha como motorista de carreta, decidiu abandonar as corridas por aplicativo. Segundo ele, o principal motivo que o levou a tomar essa decisão foi o aumento do combustível, aliado à falta de segurança.

“Não estava mais valendo a pena. Como o combustível aumentou e as corridas diminuíram, eu estava ganhando cerca de R$ 5 de lucro, apenas. Isso sem contar as chances de ser assaltado ou vítima de algum tipo de crime”, afirmou Eder.

O motorista afirma que a experiência com as corridas foi tão ruim que ele optou por excluir até os aplicativos de seu celular.

“Não uso nem como cliente, de tanto trauma que tomei”, disse.

Volta para o táxi
A demora para encontrar um motorista de aplicativo disponível no local onde estava fez com que o bancário André Velloso, de 36 anos, pagasse um valor maior em um outro tipo de serviço.

“Eu esperei mais de 30 minutos. Como não consegui, chamei um táxi. Paguei um valor maior para conseguir chegar no horário no trabalho. Caso contrário, nem chegaria”, contou.

O bancário também disse conhecer outras pessoas que tiveram problemas para conseguir corridas. “Minha funcionária já ficou muito tempo aguardando e não encontrou motorista”.

 

Reprodução: A Tribuna