ES lança Plano Estadual para enfrentar aumento da sífilis congênita

ES lança Plano Estadual para enfrentar aumento da sífilis congênita

A Secretaria da Saúde (Sesa) lançou o Plano Estadual de Enfrentamento da Sífilis Congênita no Espírito Santo. O objetivo é criar estratégias com os 78 municípios capixabas em busca da redução do número de casos da doença, que está bem mais alto do que preconiza a Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 0,5 casos por um mil nascidos vivos.

Em 2023, foram 16 casos de sífilis congênita no Estado por um mil nascidos vivos. A meta do Plano Estadual é reduzir essa incidência para 2,3 por um mil nascidos vivos até 2027 e alcançar o índice estabelecido pela OMS até 2030.

O subsecretário de Estado de Planejamento e Transparência da Saúde (SSEPLANTS), Francisco José Dias da Silva, explicou que as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), de modo geral, estão sofrendo um processo ascendente no Brasil.

“É um problema de saúde pública que também impacta o Espírito Santo. A ideia é realizar o trabalho de forma integrada, articulando com a rede, desde a Atenção Primária, passando pelos serviços de referência, o apoio de diagnóstico e as Vigilâncias em Saúde, com prioridade para a gestão do cuidado. É buscar estas gestantes que eventualmente não estão tendo um tratamento adequado e que, ao chegar na maternidade, acabam recebendo o diagnóstico do recém-nascido como caso de sífilis congênita”, alertou Silva.

O subsecretário da SSEPLANTS destacou ainda que a ideia é que os 78 secretários municipais estejam comprometidos com o Plano Estadual, assim como as equipes técnicas em todos os níveis de Atenção Primária e as Superintendências Regionais.

“É importante lembrar que, em nível nacional, o Ministério da Saúde está com uma política nesta mesma direção, de levantamento da situação das ISTs e especificamente da sífilis congênita. A lógica do nosso Plano Estadual é de monitoramento intensivo e, para isso, será disponibilizada uma planilha que estamos solicitando que seja preenchida mensalmente pelos municípios com os indicadores da doença. Além disso, serão realizados encontros mensais e a criação de uma agenda de trabalho para que possamos encontrar soluções que estão nos impedindo, neste momento, de proporcionar um tratamento adequado e eficaz às gestantes”, explica Dias.

O subsecretário de Estado de Atenção à Saúde (SSAS), José Tadeu Marino, representando o secretário de Estado da Saúde, Miguel Duarte, ressaltou que não falta conhecimento, vontade e força para vencer a doença.

“Essa unidade institucional entre o federal, o estadual e o municipal é fundamental. Nós temos todas as possibilidades de resolver essa situação, com profissionais habilitados e testes rápidos disponíveis para atender às gestantes, só precisamos encontrar o gargalo que está dificultando esse processo, e o Plano Estadual vem exatamente ao encontro dessa necessidade”, frisa Marino.

“Como representante do Ministério da Saúde no Estado, tenho defendido ao longo desse debate, embora ainda não tenha levado a ideia ao espaço do Ministério da Saúde, a realização de um estudo para saber quem são essas pessoas no Estado acometidas pelas ISTs e sífilis congênita, onde elas moram, e, assim, contribuir também na construção de estratégias de controle e eficácia do acesso ao tratamento adequado”, sugeriu o superintendente do órgão, Luiz Carlos Reblin.

A secretária de Saúde de Vila Velha, Cátia Cristina Vieira Lisboa, que também esteve presente ao evento representando o Colegiado de Secretários Municipais de Saúde do Espírito Santo (COSEMS-ES), destacou que trazer a gestante para dentro do serviço para que tenha o tratamento adequado é, sem dúvida, desafiador, mas o acesso a ela ainda é maior do que ao seu parceiro, que, muitas vezes, aliás, nunca é revelado.

“E Vila Velha também enfrenta esse problema, então nosso desafio é mesmo coletivo, por isso é muito relevante colocar essa pauta em debate e esse Plano Estadual para estabelecermos em conjunto as estratégias”, frisa.

Educação permanente pelo ICEPi

O diretor-geral do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi), Fabiano Ribeiro dos Santos, destacou a importância na construção desse Plano Estadual do uso das ferramentas de automatização para ajudar a melhorar os processos de trabalho, que, segundo ele, não são soluções fáceis, mas viáveis em um médio e longo prazo e podem ser realizadas pelo instituto.

“Também estamos nos programando para levar a formação que já proporcionamos para quem está como residente dentro do Provimento e Fixação de Profissionais para o restante das equipes que não são do ICEPi, com o objetivo de contribuir para a melhora dos indicadores. Um trabalho com a cooperação do Estado, do ICEPi, dos municípios e do Ministério da Saúde”, afirmou.
Participaram ainda do lançamento do Plano Estadual de Enfrentamento da Sífilis Congênita no Espírito Santo Edna Cellis Vaccari Baltar, médica pediatra neonatologista e RT da Saúde da Criança e Rede Materno Infantil; Fabiana Marques Dias e Silva, chefe do Núcleo de Vigilância Epidemiológica; e Maria Angélica Callegario Vieira, chefe do Núcleo Especial de Atenção Primária, que apresentaram os indicadores da doença no Espírito Santo e que vão servir de base inicialmente para a definição das estratégias necessárias para modificar o cenário que se observa neste momento no Estado em relação à sífilis congênita.

Números

– De 2014 a 2017, foi observado no Estado um aumento considerável de casos de sífilis congênita, que atingiu uma incidência máxima em 2017 de 13,2 casos para cada um mil nascidos vivos. Neste ano, diante do cenário, também foi realizado um plano de enfrentamento da doença e houve uma redução dos números nos anos seguintes, com o menor índice em 2020, de 7,8 casos para cada um mil nascidos vivos.

– A partir de 2021, os números começaram a subir novamente, até chegar em 2023, quando foram 16 casos de sífilis congênita para cada um mil nascidos vivos.

– De 2020 a 2023, houve um aumento da sífilis adquirida e gestante congênita. No ano de 2023, foram 8.081 casos de sífilis adquirida; 2.258 de sífilis em gestantes e 824 de sífilis congênita. De 2022 a 2023, só de casos de sífilis congênita foram 150 a mais.

– Em relação aos casos de sífilis congênita, 83,7% das gestantes fizeram o pré-natal, mas tiveram filhos com a doença.

– Em relação ao diagnóstico da sífilis materna, em 69,3% dos casos o diagnóstico foi feito no pré-natal e 23,3% no parto/curetagem.

– Em relação ao tratamento da gestante com sífilis, 41,5% foi inadequado e 27,8% não realizado. Só 21,9% receberam um tratamento adequado.

– Em relação aos parceiros, só 10,7% realizaram o tratamento.

– Oferta de tratamento da sífilis nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) – levantamento de 06 de abril de 2024 realizado pela Secretaria da Saúde (Sesa), Subsecretaria de Estado de Atenção à Saúde, pela Gerência de Política e Organização das Redes de Atenção em Saúde e pelo Núcleo Especial de Atenção Primária.

– 52 municípios do Estado responderam ao levantamento proposto: 16 na Região Central/Norte, 18 na Metropolitana e 18 na Sul.

– 32 municípios ofertam tratamento em todas as Unidades de Saúde; 16 não ofertam tratamento em nenhuma e 4 ofertam só em algumas.

– A meta é levantar os dados em todos os municípios, além de detectar o porquê desse gargalo em algumas Unidades de Saúde e contribuir para que esses municípios implantem o tratamento da sífilis nesses locais.

 

Fonte: ESHOJE