Euclério e PP fecham aliança em Cariacica e partido busca vice na chapa de reeleição
Dez em cada 10 pré-candidatos a prefeituras e governos estaduais, quando são questionados sobre o nome que irá compor a chapa como vice, costumam responder: “Posto de vice é o último a definir” ou “não existe eleição para vice”.
A tradição mostra que é isso mesmo: a definição do vice ocorre, na maior parte das vezes, aos 45 do segundo tempo, quando não acontece na hora do registro da candidatura. Isso, porém, não impede que, nos bastidores, haja uma disputa antecipada entre partidos e cobranças dos dirigentes para ocupar o posto.
Em Cariacica, por exemplo, a disputa para emplacar o nome de vice na chapa que será liderada pelo prefeito Euclério Sampaio (União), ano que vem, já começou. E promete ser acirradíssima.
No último dia 10, a cúpula do PP se reuniu com Euclério, em seu gabinete, para reafirmar a parceria com a prefeitura, frisar o empenho da sigla em levar investimentos para o município e também cobrar uma posição de destaque na eleição do ano que vem: o PP quer, nada mais nada menos, que emplacar o nome do ex-deputado Sandro Locutor (PP) como vice na chapa de Euclério.
E a cobrança foi feita sem rodeios:
“O PP está trazendo investimentos para Cariacica. Seja por meio dos nossos dois deputados federais, da nossa deputada Raquel na Ales, do Marcus (secretário) na Sedurb, dos nossos dois vereadores que estão na base, sendo um secretário. Nós já fazemos políticas públicas ao lado do Euclério e queremos coroar, lá na frente, com a possibilidade de Sandro ser vice”, disse o secretário-geral do PP-ES, Marcos Delmaestro.
Locutor foi candidato a prefeito de Cariacica pelo PROS na eleição passada, em 2020. No ápice da pandemia de Covid-19 no País, Locutor chegou a ficar internado por 10 dias – 7 na UTI – às vésperas do 1º turno. Terminou a disputa em 4º lugar, com 17.536 (10,66%) votos. No segundo turno, apoiou Euclério.
No ano passado, Locutor, já no PP, foi candidato a deputado estadual, teve 15.276 votos e ficou como suplente. Hoje é subsecretário da Casa Civil do governo do Estado. Ele participou da reunião com Euclério e com a cúpula do PP. Da mesma forma que Euclério também participou da convenção estadual do Progressista que ocorreu no último sábado (15).
PLANOS FUTUROS
Normalmente, um partido, para valorizar o passe, lança seu player na disputa e, depois, negocia a retirada da candidatura própria e o apoio a um outro candidato. Nesse caso, o PP já mirou direto no posto de vice. Por quê?
Embora a coluna não tenha feito uma pesquisa de avaliação da gestão do prefeito Euclério entre os moradores de Cariacica, no mercado político e entre as lideranças – deputados, secretários estaduais e até outros prefeitos – ele é bem avaliado e cotado a conquistar um segundo mandato. Constantemente, Euclério é elogiado em discursos na Assembleia, por exemplo. E muitos deputados já disseram que irão apoiá-lo à reeleição.
Outro ponto é que há um esforço velado, do Palácio Anchieta, em prol de Euclério. Ele é da base do governador Renato Casagrande (PSB), que já disse que irá se manter neutro na eleição do ano que vem caso tenha mais que um aliado na disputa. Mas, nos bastidores, o Palácio tem removido algumas peças para que Euclério encontre um caminho livre em 2024.
Uma delas foi o atual presidente da Assembleia, Marcelo Santos (Podemos), que, no acordo que fez para receber a benção do Palácio Anchieta e ser o candidato do governo na disputa pela presidência da Ales, abriu mão de se candidatar, ano que vem, à Prefeitura de Cariacica. Ele vai apoiar Euclério.
Outras estão em partidos que fazem parte da base de Casagrande e que até poderiam lançar candidatos, mas devem fechar com Euclério, como o PP. Há uma regra não escrita na política que diz que, quantos mais candidatos no jogo, mais chances de uma disputa ir para o segundo turno e mais desgastes para quem está no poder.
Sabedor dessa tese, Euclério tem se reunido com diversos dirigentes partidários, já para costurar uma aliança visando montar uma frente ampla para o ano que vem. Além do PP, ele também se reuniu com o presidente do PSD no Estado, o ex-deputado Renzo Vasconcelos, em busca de apoio.
Mas é claro que, nem no comércio e nem na política, existe jantar de graça e o apoio de agora vai virar uma fatura a ser paga amanhã. Resumindo: Euclério sai fortalecido, mas a pressão será grande por espaço na gestão, na chapa de reeleição e numa eventual sucessão.
Caso Euclério seja reeleito no ano que vem, vai ter que preparar um sucessor em 2028, o que, em tese, abre um caminho de possibilidades para o vice escolhido. Nada obriga o mandatário apoiar o vice à sucessão, mas é inegável que o vice sai com um passinho na frente dos demais pleiteantes – como o vice-governador Ricardo Ferraço (PSDB) sai em vantagem para ser o nome a suceder Casagrande na disputa de 2026.
E aí é que se chega na cobrança do PP: já imaginando que a concorrência vai ser grande para o posto de vice de Euclério, o PP tratou logo de trazer a público quais são suas intenções para o ano que vem. Afinal, quem chega primeiro bebe água limpa!
“GRANDE PARCEIRO”
O prefeito Euclério ouviu a proposta, em tom de cobrança do PP, mas não deu resposta ainda. Ele é do time que vai esperar a eleição se aproximar para bater o martelo sobre o nome que caminhará com ele na mesma chapa pedindo votos.
Mas, elogiou Sandro Locutor. “Vou avaliar com carinho, é um grande parceiro, mas é a última decisão a ser tomada (a escolha do vice)”, disse Euclério à coluna.
Segundo ele, o PP foi “sacramentar” a parceria e tratar de 2024. Ele confirmou que houve o pedido pela indicação do vice na chapa, mas nenhum outro pedido por espaço na gestão. O PP já faz parte da administração e ocupa a Secretaria de Esporte e Lazer com o vereador licenciado Paulo Foto (PP).
A estratégia política que tem adotado para arregimentar o maior número de apoiadores ao seu projeto também tem dado frutos na Câmara Municipal. Euclério quase não enfrenta resistência entre os 19 vereadores do município. Boa parte dos projetos que envia é aprovado com ampla maioria e até por unanimidade.
“Todos os vereadores estão na base, nunca teve oposição lá. Eu trato os vereadores bem, minha relação com a Câmara é boa e eles são parceiros da cidade”. Chama a atenção que Euclério não exclui da sua lista de aliados nem o vereador petista André Lopes. O PT disputou, com Célia Tavares, o segundo turno contra o prefeito na eleição de 2020 e deve lançar candidato novamente no ano que vem.
Fonte: Folha Vitória.
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